quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Nossos personagens, nosso prórprio jogo...



Acordei no meio da noite ofegante, tive a impressão de que meu coração conseguiria pular pela minha garganta e mesmo que eu tentasse respirar calmamente e aplicar os métodos que utilizei algumas vezes para controlar meu passageiro sombrio, sabia que o que estava provocando aquele momento de adrenalina era o medo causado pelos sonhos que vinha tendo ha algumas semanas. Definitivamente não conseguia tirar você dos meus pensamentos, e agora não mais, até mesmo dos meus sonhos. 
Não sei dizer em que momento eu comecei a entender que aquele seu olhar tão meigo e doce era direcionado apenas a mim, os meninos recebiam olhadas geladas de reprovação.  As piadas, os comentários engraçados e as referências eram feitas diretamente a mim mas levei tempo para entender o que se passava, tempo para entender que nosso jogo se estenderia além do tabuleiro.  
No início eu tentei negar para mim mesma que você sentia alguma coisa, mais tarde comecei a negar que eu sentia alguma coisa! Não sei como foi, acredito que tenha sido o tal olhar doce, uma certa ingenuidade na hora da conquista, um movimento leve ao tocar a minhas mãos para pegar os dados e a forma gentil como atendeu os meus desejos caprichosos. Talvez tenha sido esse ar de superioridade que aos meus olhos é sufocado pela seu jeito tosco de discutir as coisas. Talvez lhe falte um pouco mais de propriedade ao falar das cosias que gosta, mas mesmo assim, conseguimos engatar conversas descompromissadas cheias de spoilers e da minha mania de querer atenção.
Um dia eu lembrei de você, no outro dia vesti uma camiseta para que você notasse que eu estava mesmo ali, mais tarde me peguei brigando comigo mesma para espantar os pensamentos que me atormentavam, pensamentos onde você era o protagonista. Os sonhos só vieram depois daquela noite, onde o céu e o inferno se fundiram nos cinco minutos que durou nosso beijo carregado de urgência e de pecado.
A banda tocava minha música preferida e o álcool já tinha tornado minha consciência mais vulnerável, então nos encontramos em um lado da pista, por coincidência ou não, onde ninguém  conseguia nos ver. Fomos tomados pelo desejo subto de acabar com a tortura daqueles jogos que se arrastavam onde apenas os dados tinham chance de rolar na mesa. Antes mesmo   de decidir  se deveria estar ali você me puxou para perto, segurando minha mão como se eu fosse uma criança prestes a fujir do castigo, envolveu o braço em minha cintura e tocou de uma forma brusca mas cheia de desejo cada terminação nevosa em minha boca. Meu corpo inteiro entrou em um tipo de transe, como se nós dois atravessássemos para outra dimensão. E fui a céu quando encontrei sua boca e desci ao inferno quando tive que te afastar. Nenhum dos dois disse nada, não precisava, sabíamos,  pelos nossos olhares e pelos toques cheios de desculpa durante os poucos momentos que nos víamos que nós dois queríamos a mesma  coisa, não se tratava de nenhum sentimento profundo, mas de um desejo intenso de    estar assim, ligados por um beijo que durou cinco minutos, mas que teve o poder de confundir minha cabeça.
Nos dias que se passaram, durante os encontro casuais era difícil manter os olhos longe de você, não só porque tudo em mim estava mexido, mas porque você correspondia na mesma medida. Lógico que sabíamos que nossos cinco minutos no paraíso não poderiam  ganhar uma versão estendida ou talvez uma sequência, mas na mesma medida que seus lábios eram um mundo onde eu não poderia estar, seus olhares e diálogos dirigidos a mim me levavam para um dimensão cheia de fantasia, fantasia que não estava no jogo, fantasia que eu criava apenas na minha cabeça.
Nos últimos dias tenho sonhado muito com você, as  vezes acordo e tenho a impressão que do outro lado, você teve o mesmo sonho, meu coração dispara me dizendo que existe uma energia que nos impulsiona em direção um ao outro. Eu respiro, calculo as consequências, respiro de novo, e me conformo em ficar apenas com a lembrança do seu desejo, me contento em ter esse pequeno pedacinho de você, desse você que nada tem a ver comigo, desse você que ao mesmo tempo que me faz rir com suas piadas me faz rir das tosquices que você fala. Desse você que não gosta das mesmas músicas que eu , que não compreende uma série como eu, que se deixa levar para a masmorra de um relacionamento forçado pelas convenções sociais, desse você que cada vez que me olha faz meu corpo tremer em desespero desejando brincar com um personagem, com aquele mesmo personagem que entrou no seu jogo de sedução, com o personagem que deu a volta na pista sabendo que te encontraria do outro lado, porque nossos olhares nos mostraram naquela noite que não havia mais como guardar tanta vontade, que mais cedo ou mais tarde todo esse desejo entraria em combustão talvez causando um mal muito maior que uma pequena mentira. Eramos apenas dois personagens, fugindo da vida medíocre e pisando em terras fantasiosas, onde nós dois podemos existir.
Ainda que eu acorde ofegante, prefiro ficar com gosto doce da sua boca e com esses olhos de menino travesso que sabe fingir muito bem uma inocência, inocência essa que eu teimo em acreditar pois imagino que quando estamos na volta do tabuleiro você é apenas mais um no jogo, mas quando estamos levemente nos tocando por algum descuido ou com olhares diretos, você é o cara que me arrebata com esse jeito meigo, com sua pele branquinha, com seus gostos duvidosos, sendo o personagem que criamos para o nosso próprio mundo de fantasia. 

Marcinha Peixoto

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