sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O peso da lembrança...


 *(Esse texto foi escrito originalmente em 28/02/12
em nada tem a ver com minha realidade hoje)

Todos os dias eu acordo, e em meio a melancolia do começo do dia eu digo a mim mesma que só por hoje eu não vou pensar na minha dor. Vou ignorá-la assim como faz o personagem de Uma Mente Brilhante com seus fantasmas. Mas tem dias que não é possível, ela vem de uma forma tão profunda que meu pensamento mergulha em cenas criadas pela minha própria mente, sou eu torturando a mim mesma, essa é a parte que a minha resiliência deixou escapar.
Para o mundo, eu estou bem com minha vida mediana. Para mim, neste dia eu estou afundando nas minhas neuroses. Não, não são neuroses, são sentimentos verdadeiros, de fatos verdadeiros que não tiveram uma explicação verdadeira.  Posso mentir para o mundo, para que as pessoas ao meu redor se sintam confortáveis com minha presença, mas não posso mentir para mim mesma. Talvez eu tenha tentado fazer isso por algum tempo, dizendo que tudo não passava de um episódio isolado, desses em que tem começo meio e fim.  Minhas lembranças daquela noite aparecem para me provar que tudo foi real.
Não me peçam para esquecer. Não dá! Não me peçam para superar, porque as vezes eu acho que isto é insuperável. Em um momento como este você se questiona dia após dia, hora após hora se perguntando o que fez de errado. A auto-estima despenca feito um desses elevadores de parque de diversão e você se sente a última criatura da terra. Por quê? Por que nos ferem como ferro em brasa, deixando as marcas e nos pedem para esquecer? É possível tirar a marca do dono do couro do seu rebanho? Ta marcado sobre minha pele, sobre minhas lembranças das frases lidas, das mensagens encontradas, das coisas que minha mente criou antes mesmo de saber a verdade.
Um raio X não mostraria destruição que meu corpo sofreu, o coração sendo dilacerado e machucado com seu ritmo cardíaco atingindo seu ápice, o estômago se retorcendo de nojo querendo por para fora sentimentos, coisas que  na verdade não estão ali, a cabeça latejando e causando um tontura que te faz querer desmaiar sem você poder desmaiar. Entrar em coma. O arrepio que percorre a pele causando uma dor no peito pela raiva. Acham que pode se reconstruir e fazer com que sua memória se recomponha em poucos meses? Não dá!
Ao mesmo tempo que percebo a força que carrego por não sucumbir a nenhum devaneio, sinto raiva de mim mesma por ficar inerte, ou se quiserem, tentando exorcizar esse demônio que parece, veio para ficar.
Ainda dói, do mesmo jeito que doeu no primeiro dia. As lágrimas ainda escorrem, e seis meses passam por mim como seis dias, seis horas. Olha para mim, acha que é fácil? Acha que eu esqueci? Acha que a dor foi embora junto com as perguntas que não foram respondidas? Não foram não. Como eu disse, todos os dias eu digo a mim mesma que um pouquinho do passado não vai me assombrar. Mas é impossível.
Eu fico no que eu julgo ser quase que um ato suicida, olhando para uma imagem e me questionando: o que tem de melhor para fazer com que o meu mundo despencasse? Por que eu achei que era tudo, a força, a vaidade, a altiveza, a inteligência, a diversão? Achei que nada faltaria. Mas faltou. Nesse momento, quando meu pensamento teimoso se fixa naqueles dias, meses, eu sinto raiva de mim mesma, raiva por não ter seguido sozinha deixando toda a dor para trás. Quando escolhi passar por cima, talvez tenha esquecido que certa bagagem viria junto comigo, bagagem esta chamada dor.
Superar? Esquecer? Talvez eu até possa, daqui a algum tempo, acordar e não lembrar mais da dor. Mas é como um machucado, por mais que tenha havido cura e não se sinta mais as dores dos primeiros dias, a cicatriz está ali para te mostrar todos os dias o que você viveu. Eu não quero que me culpem por amarrar um cilício em minha perna todos os dias ao lembrar de cada detalhe do que aconteceu. Não é uma questão de confiança futura, ou de autoconfiança se querem chamar assim, é uma questão de respostas. Eu não tive as minhas e meu coração permanecerá inquieto até que toda a história seja embalada em uma caixa pequena e esquecida no fundo de uma gaveta do meu cérebro.
Quando olharem para mim, tentem ver através dos sinais que eu emito para dizer que está tudo bem. O sorriso é forçado tanto quanto a vontade de levantar pela manhã. Exagero? Não, só quem já passou por igual situação sabe aquilo que se sente.
Hoje eu resolvi deixar a dor tomar conta de mim, da dor saiu todas essas palavras. Lamentável que meu caos criativo venha quase sempre dos momentos de melancolia. Eu fiquei revendo, e revendo, e revendo com minha mente insana cada segundo dos últimos oito meses tentando achar uma resposta, porque é isso que eu preciso. Eu preciso de uma cena concreta, ou de várias cenas, eu não sei como foi. Eu preciso das palavras, das ligações, eu preciso saber os detalhes, como eu disse é minha mente insana que precisa disso. Preciso desmoronar quando tudo está bem? Preciso acabar com a felicidade? Que hipocrisia. Eu não estou feliz, eu apenas finjo que estou feliz, vocês ainda não entenderam que por mais que eu tente viver outras coisas, por mais que eu tente acreditar no futuro é o passado que move meus dias sombrios?  E ao terminar o dia, quando me deito eu me pergunto: quando diabos isso vai passar? Quando eu vou esquecer? Quando vai ser o dia em que eu vou acordar e vou ser premiada por um sentimento de felicidade completa, real? Mais um dia se foi e eu o vivi superficialmente. Todas as coisas são superficiais. Vocês não entenderam ainda? Eu vou precisar gritar ao mundo toda a verdade para que ela se liberte? Guardar um segredo de si mesma é tão corrosivo quanto ácido.
Desmorono sim, me torturo sim, penso nisso sim, e deixo doer porque marcou minha carne, vocês é que não querem ver, ou aceitar o quanto isso me destruiu. Eu não sei exatamente quanto tempo vou levar para estar bem novamente, só não finjam que está tudo bem, porque eu, hoje, decidi parar de fingir, e quando fiz isso, por um segundo parou de doer. 

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